Distribuição desigual: Irajá concentra recursos da Saúde em apenas 4 municípios e deixa 135 sem nada

A destinação de emendas parlamentares pelo senador Irajá Abreu (PSD) para a área da saúde no Tocantins em 2024 expõe uma preocupante concentração de recursos federais em poucos municípios, em detrimento de 135 cidades que ficaram completamente à margem. De um total de R$ 67,6 milhões indicados pelo parlamentar, 84,7% foram direcionados apenas para Araguaína, cidade administrada por seu aliado político, o prefeito Wagner Rodrigues. O restante foi distribuído entre Porto Nacional, Araguatins e Formoso do Araguaia — todas com vínculos políticos diretos com o senador.

Essa centralização levanta sérias dúvidas quanto aos critérios adotados por Irajá para distribuir recursos públicos que deveriam atender de forma equitativa a população tocantinense. Enquanto cidades com estrutura fragilizada enfrentam dificuldades para manter serviços básicos, algumas poucas localidades receberam repasses milionários sem justificativas técnicas claras. Araguaína, sozinha, recebeu R\$ 57,2 milhões — valor superior ao total destinado pelos outros dois senadores do estado, Professora Dorinha (União) e Eduardo Gomes (PL), que distribuíram suas emendas entre 85 e 37 municípios, respectivamente.

Especialistas apontam que a ausência de recursos federais nas demais cidades sobrecarrega ainda mais a rede estadual de saúde, que já opera no limite. Sem emendas, muitas prefeituras ficam sem meios de custear exames, adquirir insumos ou contratar profissionais. A consequência é a migração forçada de pacientes para hospitais regionais e estaduais, gerando filas, colapsos pontuais e comprometendo a qualidade do atendimento em todo o estado.

Em um contexto em que o Governo do Tocantins já destina R\$ 2,2 bilhões à saúde — 17,37% do orçamento estadual, acima do mínimo constitucional —, a expectativa é que os representantes no Congresso atuem de forma complementar, ampliando os investimentos e atendendo aos municípios mais carentes. A postura do senador Irajá, no entanto, contraria esse princípio e evidencia o uso político de recursos públicos essenciais, sem transparência ou critérios republicanos claros.

Diante do cenário, cresce o apelo por maior fiscalização e por uma revisão nas regras de distribuição de emendas parlamentares, para que recursos fundamentais à saúde pública não fiquem reféns de interesses políticos locais e possam, de fato, chegar a quem mais precisa.

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